sexta-feira, 14 de março de 2008

Um mergulho na mente criminosa





Crimes da CeasaIlana Casoy e Maria Adelaide Caires entrevistam o maníaco da Ceasa

André Barbosa, o homem que confessou ter matado três adolescentes e atacado um menino de 11 anos, começou a ser entrevistado, ontem pela manhã, pela pesquisadora e escritora Ilana Casoy, a perita Maria Adelaide de Freitas Caires e a psicóloga Cíntia Amorim, esta última da Polícia Civil paraense. Elas vão traçar um perfil psicológico do acusado. Ilana Casoy estuda a ação dos matadores em série, sobre os quais já escreveu livros.


Os policiais não acompanharam a avaliação, que deverá indicar quem de fato é André Barbosa, para que não houvesse a menor interferência, já que, agora, esse trabalho é conduzido pelas especialistas. Está marcada para a manhã de hoje uma entrevista coletiva com Ilana Casoy, Maria Adelaide e Cíntia Amorim, durante qual elas vão dar informações sobre a avaliação de André Barbosa.


O perfil elaborado pelas especialistas vai constar do inquérito instaurado pela Polícia Civil. Há 11 meses os policiais civis estavam à procura do 'matador da Ceasa'. André foi detido, na tarde do último domingo, em sua casa, no bairro do Guamá. A princípio, e diante das evidências, já que os policiais encontraram seu celular na mata da Ceasa, ele admitiu, apenas, o ataque ao menino de 11 anos. Ao tentar imobilizar o menino, ele caiu, possibilitando a fuga da vítima. Nesse momento, perdeu o celular.


Coordenador da força-tarefa que investigou o serial killer, o delegado Paulo Tamer disse que o nome de André já aparecia nas investigações. O perfil dele também conduzia com o do homem que há quase um ano vinha sendo procurado pelos investigadores. Usando modernas técnicas de interrogatório, disse o delegado Tamer, e ao tomar conhecimento dos indícios que existiam contra ele, o acusado foi sendo colocado no cenário dos crimes. E aí, então, forneceu detalhes sobre os ataques aos adolescentes. E também revelou que, quando criança, foi abusado sexualmente por um homem, que ele disse ser traficante e morreu por causa de seu envolvimento com o tráfico de entorpecente.


Em entrevista exclusiva a O LIBERAL, na última terça-feira, André confessou os crimes e se disse arrependido. Ele também afirmou não ter uma explicação para seus atos violentos. 'Quando chegava nessas horas, quando eu ia me tocar, eu já tinha feito. Não dava mais para voltar atrás', disse. O acusado também afirmou que procurava as famílias das vítimas, às quais demonstrava sua solidariedade. O que assustou todos é que ninguém nunca desconfiou de André. Segundo o delegado Paulo Tamer, essa é uma característica do matador em série. Ele é uma pessoa insuspeita, confiável e com bom trânsito na comunidasde.


Na entrevista, André confessou que, primeiro, imobilizava os meninos e, depois, os estrangulava. No entanto, não fala se abusou sexualmente ou não das vítimas. Segundo o delegado Paulo Tamer, isso ocorre porque André foi vítima de violência sexual e, portanto, não faz referência ao fato de ter feito o mesmo com suas vítimas. O acusado também afirmou que deixou pistas para que os policiais o prendessem. Tanto que, afirmou ele, deixou cair o celular na mata da Ceasa. A localização do telefone foi decisiva para a sua captura.


Paulo Tamer disse que André fez essa declaração porque quer passar a idéia de que está no controle da situação, como se quissesse atrair para si todas as atenções. Com a prisão preventiva decretada pela Justiça, o ex-militar do Exército está sob a custódia da Polícia Civil, vigiado por agentes do Grupo de Pronto-Emprego. Segundo o delegado Tamer, tal vigilância é necessária porque André já manifestou o desejo de se matar.


“Monstro” se envergonha e chora Edição de 16/02/2008

Comportamento - Serial killer conta por que matou os meninos a três especialistas
André Barbosa, o ex-militar de 26 anos que assassinou três garotos nas matas próximas à Ceasa, em Belém, chorou descontroladamente durante a entrevista concedida anteontem à psiquiatra forense Maria Adelaide Aires, à pesquisadora Ilana Casoy e à psicóloga Cíntia Amorim, esta da Polícia Civil paraense. Durante as quase oito horas de depoimentos, o homem que ficou conhecido como o 'Monstro da Ceasa' mostrou-se envergonhado e apavorado com o que fez, contou ter sido bastante humilhado na escola e disse ter esquecido alguns momentos específicos dos assassinatos.


Emocionado, precisou interromper a entrevista em alguns momentos para se recompor. Lembrou-se, no entanto, das últimas palavras do garoto José Raimundo Oliveira, de 14 anos, sua primeira vítima, atacada pelas costas: 'Pára, cara'. Para Ilana Casoy, elas sugerem que o garoto não fazia qualquer idéia de que André tentava assassiná-lo. 'Ele tem o direito de falar que ‘dava um branco’, porque ele não tem explicação de por quê fez aquilo', afirma. 'O que eles (assassinos em série) querem dizer é: não me reconheço no assassino.'


De acordo com as especialistas, embora não se possam precisar as causas específicas do comportamento do serial killer, elas atravessam aspectos biológicos, psicológicos e sociais com origens ainda na infância. Fato eminente é que André Barbosa teria sido abusado sexualmente por um homem chamado Max, quando tinha entre 6 e 11 anos de idade. André Barbosa também fora expulso do Exército por questões disciplinares que as pesquisadoras se negam a divulgar. O histórico de frustrações pode ter contribuído para uma escalada que o teria levado a cometer os crimes.


Elas ressaltam, no entanto, que a entrevista não consiste em avaliação psicológica, mas em uma investigação do comportamento de André Barbosa. Avaliam que a escolha de uma vítima oriunda de local diferente das anteriores sugere que André sabia que poderia ser um dos suspeitos. E revelam que o garoto de 11 anos que escapou do assassino na semana passada teria dito à Polícia que 'Quando entrei lá (no matagal), sabia que seria morto'.



PERFIL


Tido como rapaz exemplar pelos vizinhos, André era um dos cinco últimos suspeitos – dos 32 iniciais - sobre os quais a força-tarefa da Polícia paraense se debruçara após os assassinatos de José Raimundo Oliveira, Adriano Augusto Martins e Ruan Sacramento Valente, crimes ocorridio entre dezembro de 2006 e março de 2007. Segundo Ilana Casoy, a confirmação de que ele era o Monstro da Ceasa confirmou em grande parte o perfil delineado em abril de 2007 pelas pesquisadoras.


Ela afirma que, ainda naquela época, o perfil encontrado com base na reconstrução do comportamento do criminoso apontava para um serial killer organizado, que levava seu kit-crime para o local dos assassinatos, provavelmente com os nós das cordas já preparados. Ele procurava um local seguro, onde ninguém o visse e pudesse ouvir a vítima, cujo corpo era abandonado no local onde o crime fora cometido. A motivação dos crimes seria sexual e a vítima seria selecionada e estudada com antecedência. Embora o local do crime fosse distante do assassino, a casa de suas vítimas e a lan house que freqüentavam eram próximas dele.


O perfil demonstrava, porém, que, embora as vítimas parecessem relacionadas entre si, elas não necessariamente estariam para o criminoso. Naquela época, o perfil não considerava que André escolhesse as vítimas obrigatoriamente porque estudassem na mesma escola. As vítimas seriam dóceis e de baixo risco social, não-expostas a riscos iminentes tais como estão as crianças de rua, mas seriam facilmente convencidas por dinheiro. O serial killer atacaria sempre por trás e, se houvesse atos de violência sexual, eles seriam realizados após a morte dos garotos. O perfil também considerava provável que o assassino já tivesse sido vítima de violência sexual.


Assassino poderia voltar a agir a qualquer hora


O perfil também sugeria uma evolução do modus operandi do assassino, evidenciado por um comportamento mais 'eficiente' de André na morte de Ruan, o último garoto a ser assassinado. A data de aniversário das vítimas não seria um fator de seleção, mas se constituía num dado importante: os três garotos assassinados estavam perto de completar 15 anos. 'Parece-nos que quando as vítimas faziam 15 anos, não as interessavam mais', afirma Ilana, citando descrição do perfil.


Entre as características psicológicas observadas na cena do crime, o perfil citava a disposição dos corpos de forma desrespeitosa quanto à sua sexualidade; agressor aparentemente heterossexual – contrariando pensamento vigente até então no âmbito policial -, possivelmente com disfunções sexuais, como ejaculação precoce; se a homossexualidade estivesse presente, ela não seria explícita; assassino competente socialmente, sem indícios de antecedentes nesse tipo de conduta; suspeitos com antecedentes em pedofilia não se adequariam ao perfil deste serial killer; o ato sexual, se houve, teria sido por violência e não por prazer. O criminoso seria uma pessoa dominadora, de valores rígidos, mandão, de baixa tolerância aos erros alheios, não-sedutor, mas confiável e que dá conselhos morais aos mais jovens, além de possuir trabalho estável.


ANGÚSTIA


'A nossa angústia é que sabíamos que estávamos num ponto da investigação em que o assassino poderia agir antes que pudéssemos prendê-lo', afirma Ilana. 'Nosso Natal e Ano Novo foi bastante preocupante.' Ela acrescenta que casos envolvendo serial killers no Norte do País apontam para uma curiosa ocorrência entre os meses de dezembro e março, na época das chuvas.


Para Maria Adelaide Aires, a prisão de André Barbosa foi rápida em comparação com a de outros assassinos em série. Ela lembra que o fato de André ter sido uma pessoa de confiança dos garotos mortos dificultou sua captura e destaca que, entre os objetos apreendidos pela Polícia na casa do assassino, não havia nada que sugerisse um comportamento perverso. 'Ele era insuspeito, um bom rapaz. Nunca havia maltratado ninguém', afirma Adelaide.


O delegado Paulo Tamer está convencido de André sabia que os crimes estavam prestes a ser esclarecidos quando agiu pela última vez e que as palestras realizadas junto à comunidade foram determinantes para que a última vítima do assassino conseguisse escapar. Acuado, André Barbosa teria sido menos cuidadoso na realização de seus crimes.


DNA comprova crimes do maníaco Edição de 14/02/2008

Ceasa - As duas últimas vítimas de André Barbosa sofreram violência sexual


Um exame de DNA confirmou que o ex-militar André Barbosa violentou o garoto Ruam Sacramento Valente, terceira vítima do serial killer. O Centro de Perícias Científicas (CPC) Renato Chaves comparou o sêmen colhido de dentro da vítima com o sangue do acusado, após este ser preso. O laudo do Centro de Perícias Renato Chaves, entregue à polícia ontem de manhã, também confirmou que a quarta vítima - a única sobrevivente - sofreu violência sexual.


O resultado do teste serviu para confirmar a confissão de André Barbosa; a chance de erro é de uma em 379 quatrilhões. Ele admitiu ter matado três rapazes e molestado um outro, que conseguiu fugir. O exame comparou apenas o material genético deixado na terceira vítima, mas a confissão do acusado, junto com as investigações da polícia, apagam qualquer dúvida sobre a autoria dos dois primeiros assassinatos, de acordo com o diretor de Polícia Metropolitana, delegado Paulo Tamer. 'A assinatura do crime é a mesma em todas as ocasiões. O local para onde eram levados os garotos, as sandálias próximas aos corpos seminus, o estrangulamento: todas essas características mostram que a mesma pessoa praticou os crimes', afirma.


Apenas o material genético colhido no corpo da terceira vítima foi usado no exame de DNA porque nos dois primeiros casos ele havia sido diluído pela chuva. 'Fatores climáticos impediram que fosse feito o mapeamento genético a partir do sêmen nas duas primeiras vítimas', conta Terezinha Palha, perita do CPC especialista em teste de DNA. Mas isso não impediu que a polícia desse como certa a autoria de André Barbosa nos três casos.


A equipe de investigação da Polícia Civil já havia solicitado ao CPC Renato Chaves o exame de comparação do material genético coletado com outros 15 suspeitos. Para todos eles o resultado deu negativo. André Barbosa, conta o delegado Tamer, estava em uma lista extensa de suspeitos, mas apenas os principais haviam feito o teste. 'Era uma questão de tempo para ser feito o teste com o real assassino', garante. Segundo Tamer, há meses a polícia já estava próximo de encontrar o serial killer.


O delegado Robério Pinheiro, diretor da Seccional do Guamá e participante da investigação, considera o caso praticamente encerrado. Ainda nesta semana o inquérito será encaminhado à Justiça, enquanto continua o levantamento para saber se houve outras vítimas do matador da Ceasa.


As informações foram dadas durante entrevista coletiva da qual participaram o professor Sidney Santos, coordenador do laboratório genético da UFPA, Waldir Freire, delegado da Seccional do Comércio, Vamilton Albuquerque, diretor do CPC Renato Chaves, Paulo Tamer, Terezinha Palha e Robério Pinheiro.


CASO


André Barbosa foi preso na segunda-feira, 11, após atacar um menino nas matas da Ceasa na última quarta-feira, 6. Em interrogatório, ele confessou também a autoria dos outros ataques ocorridos no ano passado. Segundo informações da polícia, André Barbosa, ex-militar, é o assassino em série que ficou conhecido como 'Monstro da Ceasa'.


Adriano Augusto Martins e Ruan Sacramento Valente, ambos de 14 anos, foram encontrados nas matas da Ceasa nos meses de janeiro e fevereiro de 2007, respectivamente. As mortes tiveram as mesmas características, levando a polícia a acreditar que foram praticadas pela mesma pessoa.


Os dois garotos estavam nus, com as bermudas perto da cabeça, levando a crer que foram violentados. Os corpos foram encontrados há cerca de 100 metros da margem da pista, numa área de mata fechada. José Raimundo foi a primeira vítima do 'monstro', mas o caso dele só veio à tona depois do aparecimento das duas outras vítimas. Até então, o adolescente era considerado desaparecido.

ENTREVISTA COM O ASSASSINO


“Eu precisava de ajuda” Edição de 13/02/2008

‘Monstro da ceasa’


Falando de forma pausada, e com os olhos cheios de lágrimas em alguns momentos, o ex-militar do Exército André Barbosa, de 26 anos, diz estar arrependido de ter assassinado os adolescentes José Raimundo de Oliveira, Adriano Martins e Ruan Sacramento. Ele afirmou que não tem uma explicação lógica para os crimes que praticou. Em entrevista exclusiva a O LIBERAL, ontem pela manhã, o acusado afirmou que se arrependia depois de matar os adolescentes, mas que não conseguia controlar tais atos violentos. Depois, e como se os crimes tivessem sido cometidos por outra pessoa, procurava as famílias das vítimas, a quem oferecia solidariedade e ajuda para localizar o criminoso.


Relatando problemas que teve na escola e na infância, quando diz ter sido abusado sexualmente por um traficante, o que ocorreu dos cinco aos sete anos, André diz que deixou pistas para que a Polícia o prendesse, deixando, por exemplo, o celular no local em que, na semana passada, atacou um garoto de 11 anos. Ele também diz que há muito tempo vem alimentando a idéia de se matar, para, assim, conseguir sua 'liberdade'. E, sem citar as palavras crime e morte, garante que não é um 'monstro' e merece uma 'segunda chance'. Por fim, pede aos pais que dêem mais atenção a seus filhos. Foi preciso muita cautela para entrevistar André, porque, de repente, segundo os policiais, ele poderia se fechar e não querer mais apresentar sua versão dos fatos.


Assassino diz que deixou pistas para que a Polícia pudesse localizá-lo


André, você está está arrependido dos crimes que cometeu?
Estou.


Por quê?
Porque eu traí a confiança de muita gente. Da minha família, dos meus vizinhos. Eles me respeitavam. Eu perdi a amizade de todo mundo que me respeitava.


Por que você matava os adolescentes?
Eu mesmo não consigo obter explicação. Quando chegava nessas horas, quando eu ia me tocar, eu já tinha feito. Não dava mais para voltar atrás.


Mas quando você atacava os meninos o que se passava na sua cabeça?
(Algo) Batia na cabeça quando eu fazia, aí não dava para voltar. O arrependimento vinha depois. Ao deitar de noite, eu pensava no sofrimento das famílias.


Por que, depois, você procurava as famílias, demonstrando solidariedade?
Eu sabia o que elas (as famílias) estavam sentindo. Eu estava pronto para apoiar da maneira como fosse preciso. Eu levava meus sentimentos.


A Polícia diz que você foi ao enterro dos três adolescentes. É verdade?
Não fui nos enterros.


Por quê?
Não tinha coragem de ir.


Você se lembrava dos meninos mortos?
Eu me lembrava algumas vezes quando falava com as famílias.


E o que acontecia nesses momentos, quando você lembrava?
Eu tentava agir normalmente. Como se não fosse eu que tivesse feito aquilo. Eu me arrependia muito, profundamente.


Você chorava?
Chorava, mas esse (o que matava) não era eu.


O que se passava na sua cabeça na hora em que você atacava os meninos?
Dava um branco na hora. Não batia pensamento nenhum. Quando eu me tocava, já tinha feito.


Do que você se lembra exatamente?
Lembro de levá-los para a mata, exceto fazer a execução deles. Parece que era outra pessoa que surgia do nada.


E por que isso acontecia?
Era mais forte do que eu. Não tenho como evitar.


Você conhecia os três adolescentes?
Eu os conhecia há poucos meses.


Os conhecia de onde?
Lá de perto de casa.


O que eles representavam para você?
Amigos. A gente se divertia nos cyber, nos jogos.


E o menino de 11 anos, você o conhecia?
Não conhecia ele.


Como você o encontrou?
Eu ia para o banco (na quarta-feira da semana passada). De repente, emendei pela Quintino. Aí eu o vi, pela primeira vez. Eu convidei ele para ir de bicicleta, para ele observar minha bicicleta. Eu disse que daria a ele R$ 10,00.
Até aí é você quem está agindo ou essa outra pessoa sobre a qual você não tem controle?
Sou eu mesmo. (Nesse momento, André afirma que foi ele quem deixou as pistas que levaram à sua prisão).


Por que você deixou pistas?
Eu vi a movimentação (dos policiais e nos arredores da casa dele). Se eu quisesse escapar, ninguém conseguiria pegar. No dia em que eles me pegaram... Eu queria me entregar. Eu mostrei a minha documentação para o menino de 11 anos.


Por que você mostrou seus documentos de identificação?
Porque eu queria que ele gravasse meu nome (agindo assim, o menino poderia ajudar a Polícia a identificá-lo depois).
A Polícia diz que, ao atacar o menino, você escorregou e deixou o celular cai na mata.
Eu peguei o celular, mas o deixei no chão.


Por que você faria isso?
Era uma forma de lutar contra tudo isso. Eu queria que a Polícia me localizasse. Não queria matar. Eu deixei pistas para a Polícia chegar até mim.


Por que você queria se entregar?
Porque eu precisava de ajuda.


Você abusou do menino de 11 anos?
Eu o imobilizei e o soltei. Eu deixei ele vivo.


Mas por que, então, você o levou para a mata?
Era uma forma de a Polícia chegar até mim. E fazer eu parar.


Você sabia que os policiais estavam à sua procura?
Eu sempre soube, desde o início. Eu observava a presença dos policiais, sabia que eles estavam por perto.


Por que você não se entregou, então?
Por causa de toda essa movimentação. Por medo de perder a vida, sem poder me expressar.


Você se considera um homem bom?
Eu sempre fui bom. Na vizinhança, ninguém reclama de mim.


Quando tudo isso começou (o ataque aos adolescentes)?
Não sei. Eu sentia fortes dores na cabeça. Começou há alguns anos. As dores duravam dias, não conseguia dormir.


Você procurou atendimento médico?
Eu fui no hospital, fiz uma tomografia, mas não deu nada.


Quando foi esse exame?
Julho ou agosto do ano passado.


Como eram essas vozes?
Eu sempre escutei vozes. A minha vida inteira. Desde pequeno. Eu não conseguia entender (as vozes). Não dormia. Noites e noites sem dormir.


Eram só vozes?
Também apareciam vultos. Eram espíritos. Não sei explicar.


Você falava isso para alguém?
Eu sempre falava com a minha família, que me dizia para procurar trabalhar esse lado.


Você procurou ajuda?
Não.


Por quê?
Achei que era bobagem. Sempre acontecia.


Quando apareciam as vozes e os vultos?
Só à noite, quando eu deitava.


Você sonhou com os adolescentes mortos?
Nenhuma vez sonhei com eles. Também não via a imagem deles.


Você trabalha?
Ajudava na taberna (da família). À noite, ia para um curso de informática. Ia para o segundo mês lá.


Como você conhecia a área da Ceasa?
Conhecia só quando eu passava de carro por lá. Lá é deserto, não tem nada.


Que horas você levava os meninos para lá?
Eu ia a partir do meio-dia.


Você os levava sempre de bicicleta?
Era.


Eles confiavam em você?
Confiavam.


O que vocês conversavam no caminho até a mata?
A gente falava sobre time de futebol (André torce para o São Paulo e, no Pará, para o Remo), jogos de videogame.


O acontecia quando vocês chegavam na mata?
Eles entravam comigo. Aí, eu imobilizava eles.


Você falava algo antes de imobilizá-los?
Não.


Como você os imobilizava?
Com golpes de jiu-jítsu.


Você praticava essa arte marcial?
Fui praticante.


Quantos golpes você aplicava?
Dois golpes no máximo. Eu neutralizava e deixava eles desacordados.


Esses golpes também funcionariam em um adulto?
Sim. Não há limite para idade. Não é a força, é a técnica.

“Dêem mais atenção aos seus filhos” Edição de 13/02/2008

Explicações:

André Barbosa não se recusa a responder a nenhuma pergunta, mas suas respostas são bastante sucintas. Ele tem dimensão do mal que fez e sabe que será punido, mas pede uma chance e tenta achar explicações para o que fez na violência que sofreu, na mãe que omitiu a morte do pai e até no Exército, que o dispensou - por conta de discriminação racial, segundo ele - após anos de treinamento. andré também se diz 'sadio', mas se contradiz ao aconselhar, logo depois, a outras pessoas que possam passar pelo mesmo problema dele: procurem ajuda médica, 'custe o que custar'.


A prisão, afirma com convicção, tirou um grande peso de suas costas.


Quanto tempo isso durava?
Dois minutos e meio, três minutos, no máximo.


Depois, o que acontecia?
Eu amarrava o fio no pescoço.


E depois?
Eu ia embora.


Você não fazia nada com as crianças? Não abusava delas?
Não. Eu ia embora. Não dava para fazer nada.


Que nó era esse que você dava no náilon que usava para estrangular os meninos?
Um nó normal. Nó de forca.


Onde você aprendeu a fazer esse nó?
No Exército.


Você já tinha matado alguém antes dos adolescentes?
Nunca fiz isso.


Já teve problemas com a Polícia?
Nunca tive passagem pela Polícia.


Você consome bebida alcoólica?
Não bebo, não fumo, não tenho vícios.


Você é religioso?
Sou católico. Não vou à igreja, mas rezo em casa.


Você tem namorada?
Já tive.


Quanto tempo durou o relacionamento?
Dois anos.


Você pensou em se casar?
Não tive vontade de casar.


Você quis ter filhos?
Não. Nunca me vi preparado para isso.


Qual seu projeto de vida?
Ir embora para a França (onde mora a mãe biológica dele), para servir na Legião Estrangeira (uma unidade militar da França).


Por quê?
Para mostrar para o Brasil o militar que eles perderam.


Quanto tempo você ficou no Exército?
Oito anos. Cheguei até cabo temporário.


Você acha que o Exército brasileiro não lhe deu a devida importância?
A gente passa por treinamento e, em determinado momento, (o Exército) dá um chute na bunda.


Mas o que você acha que deveria ser feito?
Tem que (o militar) ser aproveitado, independente da patente ou da cor.


Você está insinuando que sofreu discriminação no Exército?
Todo mundo sabe que sempre houve preconceito nas Forças Armadas.


Ao sair do Exército, você não quis ingressar na Polícia?
Não queria ser policial. Eu gostava de ficar em áreas onde pudesse participar de treinamento pesado. Eu gostava de fazer manobras militares.


Você gosta de filmes de guerra?
Gosto.


Qual o seu filme predileto sobre esse tema?
Lágrimas de Sol.


Você gosta de livros sobre guerra?
Gosto.


Qual o livro preferido?
A Arte da Guerra. Gosto muito de História. De ler sobre a primeira e a segunda guerra. Gosto de História em termos geral.


Você é fã do ditador Adolf Hitler?
Eu gostava das idéias dele. Com ele, a Ciência avançou. Só que ele usava a Ciência para o mal. Ele era 'genioso' (um gênio) por ter evoluído a Ciência, mas um burro por usá-la para a maldade.


Você fala das experiências com os judeus?
Sim.


Se a Polícia não tivesse te prendido, você continuaria matando?
Não. Eu conseguiria me dominar.


Como, se você diz que não tinha como controlar essa vontade?
Há muitos dias eu estou com a idéia de me matar. Penso o tempo todo em me matar.


Por quê?
Seria a liberdade.


Liberdade?
Quem plantou fui eu. Quem começou a colher fui eu.


Você teve mais alegrias ou tristezas em sua vida?
Mais tristeza até hoje.


Qual a maior tristeza?
Minha mãe biológica ter me enganado.


Como assim?
Ela passou mais de 20 anos me trazendo mensagens do meu pai. Certo dia, joguei um verde e descobri que ele morreu alguns meses depois que eu nasci.


Você sempre quis conhecer seu pai?
Sim.


Quando você descobriu a verdade?
Em 2006. Eu perguntei o local em que meu pai tinha ficado e ela, sem perceber, me falou da morte dele. Ela tinha que ter me contado. Todo mundo merece saber a verdade.


Como é o contato com sua mãe biológica?
Ela mora na França. É raro ela ir lá em casa.


Há quanto tempo ela mora lá?
Há quase 30 anos.


O que aconteceu quando você soube da morte de seu pai?
Ficou mais difícil o relacionamento (com a mãe biológica). Só que eu não demonstrava minha decepção.


Por quê?
Porque sou fechado.


E como era a relação com sua mãe adotiva?
Sempre a tratei com respeito. Ela era tudo para mim. Ela me criou desde pequeno.


É verdade que ela faleceu recentemente?
Ela morreu de parada cardíaca. Tem 12 dias hoje (ontem, terça)


Você comentou com sua mãe sobre esses crimes?
Não.


André, você se considera um criminoso?
Não.


Por quê?
Porque não fiz por vontade própria.


Você se sente culpado?
(Ele fica em silêncio por alguns instantes). Não. Não fiz por querer.


O que você acha que deve ser feito com você agora?
Preciso de toda a ajuda possível, para pagar o que fiz e poder ajudar quem eu fiz sofrer.


Você tem noção de que vai ser responsabilizado por seus crimes?
Eu sei que você pagar.


Você acha que a cadeia é o lugar onde você deve ficar?
Se eles acharem que eu vou conseguir mudar na cadeia...


O que você diria às autoridades que vão analisar seu caso?
Que preciso de ajuda psicológica.


Como foi sua infância?
Tem partes boas e ruins.


Quais as coisas boas?
As brincadeiras, a convivência com família e amigos.


E as coisas ruins?
Os professores me maltratavam. Uma professora me dava puxões de orelha.


Por que isso ocorria?
Porque eu gostava da piscina que tinha lá (um colégio que, segundo ele, ainda existe e fica na travessa Castelo Branco). Eu queria estar na piscina. Ela não deixava, me colocava de castigo atrás da porta, puxava minha orelha.


Você gostava de estudar?
Não gostava.


Por quê?
Porque me forçava a fazer o que a gente não quer. Eu não sabia ler, ela (a professora) me obrigava a ler. Eu errava as letras, e apanhava com uma régua de madeira.


Mas você gostava de alguma disciplina?
Sempre gostei de História.


Você gostaria de se formar em quê?
Em Geologia. Eu quero estudar nossos solos, nossos minérios. Faço bastante leitura sobre esse assunto.


Você teve a oportunidade de estudar?
Oportunidade eu tive, mas tive muita dificuldade para conseguir aprender as coisas.


Que dificuldades eram essas?
É que os outros queriam que eu aprendesse à força. Eu não estava preparado.


André, você foi abusado sexualmente na infância?
Teve um homem que fez mal para mim.


Você tinha que idade?
De 5 a 7 anos.


Onde acontecia o abuso?
Lá perto de casa, em um antigo matagal. Eu vivia me escondendo dele. Mas sabe como é, criança é besta para caramba.


O que ele te oferecia?
Oferecia linha e papagaio, que era o que eu gostava de brincar.


Quem era ele?
Meu vizinho. Eu tinha raiva dele.


Ele te ameaçava?
Me ameaçava e também minha família.


Você acha que ele fazia o mesmo com outros meninos?
Acho que sim.


O que aconteceu com ele?
Mataram ele (segundo André revelou à Polícia, esse homem se chamava Max, era traficante e foi morto por envolvimento com o tráfico).


Você tinha que idade quando ele foi morto?
18, 19 anos.


O que aconteceria se você o encontrasse?
Eu o mataria.


Quando você levava os meninos para a mata, você se lembrava do que aconteceu com você na infância?
Eu lembrava de tudo isso. Vinha à minha mente.


Aí você descontava nos meninos?
Era.


O que você diria agora para os pais dos adolescentes mortos?
Desculpa.


E para seus amigos?
(Silêncio por alguns instantes). Não tenho palavra.


Você é mentalmente sadio?
Sou sadio.


Se você pudesse voltar no tempo, o que você mudaria?
O dia em que me deu vontade de começar a fazer isso.


Era vontade ou necessidade?
Mais necessidade.


Você tinha que fazer, era mais forte que você?
Era.


Quem, afinal, é você?
O Andrezinho de infância, amigo, pronto para ajudar a qualquer momento, a qualquer hora. Sempre ajudei os outros. E sempre quem quebrava a cara era eu.


Como você se sente agora?
Livre.


Por quê?
Tirei um peso das pessoas, que queriam saber quem era o verdadeiro culpado.


Você acompanhava o noticiário sobre as mortes dos adolescentes?
Eu acompanhava. Eu escutava as pessoas falando. Via o noticiário na tevê.


E qual era a tua reação?
Eu sempre falava: quem será esse que está fazendo isso?


O que você tem a dizer, considerando essa outra pessoa em quem você se transformava?
Todo mundo merece uma segunda chance. Todo mundo, para aprender, tem que errar. Eu errei. Tenho que voltar e aprender tudo de novo.


A pessoa que cometeu esses crimes ficou conhecida como 'O Monstro da Ceasa'. Como você se sente ao ouvir isso?
Eu fico chateado. Não sou assim.


Você é um monstro?
Não sou um monstro.


O que você acha que vai acontecer com você a partir de agora?
Vou pagar pelos meus atos.


Como você acha que deve ser tratado a partir de agora?
Preciso de ajuda.


E o que você diria aos pais de uma maneira geral?
Dêem mais atenção aos seus filhos. Sejam presentes no que eles estão fazendo. Não os deixe só. Os pais devem escutar mais seus filhos.
Mas você era alguém de confiança, de quem ninguém nunca suspeitou de nada.
Eu era de confiança, mas não era da família deles.


Os pais devem confiar desconfiando, é isso?
É.


Como você quer que a sociedade te veja a partir de agora?
Quero que me vejam como uma pessoa simples, alegre, de família, que sempre respeitou todo mundo. Sou uma pessoa normal, como todo mundo. Eu estudo, trabalho...


O que você diria para alguém que passou pelos mesmos problemas que você?
Procure ajuda, custe o que custar.

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