sexta-feira, 14 de março de 2008

Menino retorna ao local do crime

Ontem Vítima de abusos, o garoto participa do 'levantamento de local' perto da Ceasa

O menino agredido esteve ontem no local do crime, acompanhado pela assistente social Márcia Rezek, do Pró-Paz.

Ele apontou aos peritos o local exato para onde foi levado. 'Hoje (ontem) é que ele conseguiu conversar melhor sobre o assunto e até concordou em vir aqui ajudar a polícia. Na quarta-feira, logo depois do acontecido, ele pouco falava. É um comportamento comum entre vítimas de agressão desse tipo', explicou Rezek.

O garoto procurou primeiramente a Seccional da Cremação para comunicar a violência por ele sofrida. De lá, foi encaminhado à Santa Casa de Misericórdia, onde funciona o Pró-Paz. Ali, ele foi submetido a exames periciais e médicos e mantido em observação, recebendo alta ontem de manhã. Ele continuará acompanhado pela equipe do Pró-Paz até que esteja plenamente recuperado do trauma.

Levantamento

Ontem de manhã, policiais civis que integram a Força-Tarefa que investiga o caso 'Monstro da Ceasa' acompanharamo o levantamento de local de crime, aonde o garoto de 11 anos foi levado na última quarta-feira. O perito Vamilton Albuquerque, diretor do Instituto de Criminalística do Centro de Perícias Científicas Renato Chaves, coordenou o levantamento.

Dentro da mata, o trabalho de Vamilton e sua equipe foi acompanhado pelos delegados Robério Pinheiro e Waldir Freire, dois dos cinco que integram a Força-Tarefa do caso 'Mostro da Ceasa'. Equipes de reportagem foram mantidas longe da área periciada. 'Para que todos os elementos do local de crime sejam preservados, apenas a polícia e a perícia poderão entrar', determinou o delegado Waldir, antes de o trabalho ter início.

O levantamento de local de crime durou cerca de 40 minutos. 'Estivemos aqui já na quarta-feira, logo que o garoto comunicou o fato à polícia. Mas as condições de luminosidade eram muito ruins. Por isso, retornamos hoje de manhã', explicou Vamilton Albuquerque.

Passo a passo

O menino de 11 anos foi ouvido, ontem à tarde, na Delegacia do Marco, acompanhado por uma assistente do Pró-Paz, o programa do Governo do Estado que atende a crianças e adolescentes vítimas de violência sexual. Leia algumas revelações da criança.

Na manhã de quarta-feira, o menino saiu de sua casa para vender algumas latas de alumínio. Depois, a pedido da irmã, foi comprar açaí, às 10 horas.

Ao retornar da compra, o menino contou ter sido abordado por um homem alto, magro, moreno, cabelos pretos e 1,80 m de altura. O desconhecido estava em uma bicicleta.

O homem ofereceu ao menino R$ 10,00, para que o garoto reparasse sua bicicleta, pois ele iria a um banco sacar dinheiro. O menino subiu na garupa da bicicleta.

O desconhecido, porém, pegou o caminho da Ceasa. O garoto ainda perguntou se aquela era a Ceasa. O homem respondeu que não, que era o caminho do banco, ao qual somente por ali ele teria acesso.

Às proximidades do matagal, eles pararam. O homem disse que iria urinar. Só que, ao retornar, o desconhecido foi logo dizendo para a criança tirar a roupa e ficar despida.

O menino correu, mas foi perseguido. Ao alcançá-lo, o desconhecido apertou seu pescoço. Em seguida, o puxou com força para dentro do mato.

Mais uma vez, exigiu que o menino tirasse a roupa. Do contrário, o mataria com a faca que portava.

O menino obedeceu. O agressor também tirou as suas roupas.

O menino reagiu, jogando uma pedra nesse homem, atingindo seu braço. O desconhecido o agrediu com socos em sua cabeça e no rosto.

A criança desmaiou.

Ao recobrar os sentidos, foi novamente agredida.

O acusado tentou abusar sexualmente do menino.

Viu outro homem tentando levar sua bicicleta, escondida às margens do matagal.

Esse homem percebeu o que acontecia na mata e questionou a ação do desconhecido.

Os dois lutaram, e o agressor ficou ferido. O outro homem fugiu, assim como o agressor.

Ao perceber que estava sozinho, o menino vestiu suas roupas e saiu pedindo socorro aos motoristas do veículo que passavam pela estrada. Ninguém parou para ajudá-lo.

Depois de caminhar alguns minutos, a criança chegou a um lava-jato, pediu ajuda e a Polícia foi acionada.


INCORPORAÇÂO DE RUAN

Segundo amigos da família de Ruan Valente Sacramento, a irmã dele, Darly Sacramento, teria 'incorporado' o espírito do garoto ao final da manhã de ontem. A adolescente estava em casa, no bairro do Guamá, acompanhada da mãe, Marly Valente, quando passou a falar 'com a voz de Ruan'. A moça, falando como se fosse o próprio Ruan, pediu à mãe que a levasse até a mata da Ceasa, onde, segundo ela, precisava falar com o 'Rui'. Ela referia-se ao investigador Rui Santos, chefe de operações da Seccional do Comércio, que também integra a Força-Tarefa que investiga o caso.

Ao chegar no local, a família teve acesso ao investigador, que também acompanhava o trabalho dos peritos do CPC dentro da mata. 'Ela chegou perto de mim e simplesmente começou a dar uma série de informações. Falou até a altura da criança atacada esta semana, 1,30m. Na verdade, ela confirmou muitas informações que nós já tínhamos. Não deixa de ser um fato importante para o nosso trabalho', comentou Rui, ainda surpreso com o acontecimento.

'Realmente, ficamos perplexos. Como ela poderia saber que eu estava aqui?', comentou.
Mãe e filha chegaram de carro, por volta do meio-dia, acompanhadas de um amigo que, ao ser abordado por repórteres, disse 'não saber direito o que estava acontecendo'. Elas entraram e saíram sozinhas da mata. Ambas choravam muito e não respondiam a nenhuma pergunta, como se não estivessem escutando o que lhe diziam.

Especialista diz que espírito de Ruan ainda não poderia 'incorporar

O que pode ser um novo ataque do serial killer que atua no Pará ganhou um ingrediente inusitado ontem. Durante a busca de novas provas no local onde mais uma criança foi violentada pelo criminoso que ficou conhecido como o 'Monstro da Ceasa', a equipe de policiais e peritos que investiga os crimes e a imprensa foi surpreendida pela chegada da mãe e da irmã de um dos jovens mortos pelo assassino e presenciaram o que parecia ser a manifestação mediúnica de Ruan. O jovem teria descrito com detalhes o assassino e sua última vítima, um menino de apenas 11 anos, e falado também sobre o ataque, ocorrido na quarta-feira de Cinzas. Para o presidente da Federação Espírita Paraense, Oscar Rocha, no entanto, dificilmente uma dos meninos mortos poderá ajudar a elucidar o caso, que já ganhou repercussão internacional.

Segundo relatos de algumas pessoas que presenciaram a suposta tentativa de comunicação de Ruan Sacramento Valente, estudante de 14 anos, encontrado morto em 22 de março de 2007, nas matas da Ceasa, o que surpreende é que a família das vítimas do maníaco que atrai adolescentes através da internet não haviam sido informadas ainda do possível novo ataque do serial killer e mesmo assim apareceram ontem no local exato onde o criminoso foi flagrado.

Além disso, a jovem chegou ao local chamando pelo nome de um dos investigadores, que não conheceria, e informando detalhes físicos da última criança atacada e do próprio suspeito de ser o assassino. Foi o suficiente para começar a circular a versão de que o espírito do jovem teria se materializado usando o corpo da irmã para tentar impedir que novas mortes ocorram.

Na visão do presidente da Federação Espírita Paraense, Oscar Rocha, no entanto, isto seria impossível. 'Já recebemos quase uma centena de pessoas, nos 22 anos de existência dessa instituição, evidenciando que estariam acontecendo situações semelhantes, só que a gente verifica de imediato o estado emocional e percebe que o que pode ocorrer é uma situação de animismo, quando a pessoa mergulha no profundo do emocional. Quando, numa situação de forte emoção, ocorre essa ‘incorporação’, geralmente a pessoa vai buscar informações de vidas passadas'.

Ainda de acordo com Oscar Rocha, nenhum dos meninos assassinados poderia voltar a se manifestar tão rapidamente entre os vivos, por conta do forte trauma vivido no momento do ataque do maníaco. Eles agora, de acordo com o que preconiza a doutrina espírita, estão passando por uma fase de tratamento para superar o que ocorreu e só poderão fazer contato com alguém no plano terreno daqui a pelo menos 15 anos. 'No plano espiritual, as entidades, ao sair do corpo, são regidas por hierarquias rigorosas. Existem leis diferentes das que temos em nosso plano, que são praticamente impossíveis de ser desobedecidas. É como o leito do rio, em que a água passa naturalmente. E daqui a 20 anos, se forem autorizados a vir fazer uma comunicação, eles ainda manifestarão o mesmo sofrimento que sentiram no momento'.

Questionado sobre as coincidências do que foi dito pela jovem enquanto estaria, supostamente, sob a influência do irmão, com os acontecimentos do dia anterior e a descrição precisa de pessoas feita pela irmã de Ruan, o presidente da Federação insiste que, no máximo, o que poderia ocorrer é, sendo a jovem sensitiva, ter reproduzido situação parecida vivenciada por ela em vidas passadas. Além disso, somente pessoas muito preparadas, como era o caso do médium Chico Xavier, poderiam fazer um contato deste gênero.

Para ser um médium, entrar nessa fase prática, precisa de vários anos de estudos teóricos e práticos. Não é de um estalo, imediatamente'.

Outra possibilidade, segundo o especialista, é que tenha ocorrido uma influência, ou irradiação, de espíritos maus, chamados pelos seguidores da doutrina de 'galhofeiros'. Sendo a jovem sensitiva, e estando com o pensamento sempre voltado para a morte do irmão, ela teria então atraído mentes em conflito, que não são sérias e que poderiam, portanto, ter agido sobre a jovem. 'É um contato paralelo, uma outra pessoa que não está entre os vivos influenciou a jovem', explica.

Nenhum comentário: