‘Monstro da ceasa’
A confissão acima, feita ontem pelo ex-soldado do Exército André Barbosa, foi recebida pela população de Belém com sentimento de justiça e alívio. Entre 16 de dezembro de 2006 e 22 de março de 2007, três adolescentes foram mortos em circunstâncias semelhantes, o que levou a polícia a concluir que se tratava de um serial killer - assassino em série -, logo conhecido como 'Monstro da Ceasa'.
André Barbosa foi preso no domingo passado, após ser flagrado agredindo a quarta vítima, e ontem à tarde confessou ser o homem procurado pelos três assassinatos.
Com a confissão, detalhes escabrosos - o assassino, que fora adotado quando tinha três meses, foi abusado sexualmente entre os seis e os sete anos; declarou-se fã de armas, guerras e de Adolf Hitler; conhecia e visitava para consolar as famílias das vítimas; foi aos três enterros e chorou sobre o caixão de um dos adolescentes; matava entre dezembro e março por ser mês de festas familiares, em que sentia inveja das crianças e adolescentes na companhia dos parentes; disse que ouvia 'vozes' enquanto cometia os crimes e que, depois, não encontrava explicação para os fatos, ainda que se reconhecesse como o responsável.
Outras duas circunstâncias surpreendentes: a irmã de um dos acusados afirmou ter tido um transe mediúnico e, sem motivo aparente, apareceu nas matas da Ceasa, no momento em que a polícia levava o que seria a quarta vítima para fazer o reconhecimento de local; e também se revelou ontem que não houve nenhum ladrão de bicicleta, que teria flagrado o assassino a agredir o quarto garoto e com quem teria travado luta corporal (esse 'ladrão' seria uma invenção do garoto, abalado emocionalmente).
O sentimento de alívio foi tanto maior quando se conhecem casos de assassinos em série que só são presos depois de dezenas de assassinatos; e a sensação de justiça se reconhecia ontem no rosto das famílias das vítimas, mães que jamais vão se recuperar das atrocidades sofridas pelos meninos. Outra reação foi comum às famílias e vizinhos dos garotos mortos - a do estarrecimento, da estupefação por descobrir quem era o assassino, um jovem tido como exemplar, que ajudava mendigos e consolava velhinhos, e de quem jamais houve qualquer queixa no bairro do Guamá. Veja nesta e nas três páginas seguintes os detalhes de um dos casos policiais que mais chocaram Belém, no qual a polícia paraense desempenhou papel tido como exemplar, ao usar o serviço de inteligência e tecnologia para fechar o cerco e prender o assassino.
Na confissão, assassino diz que agiu por impulso e que não é um monstro
'Não sou esse monstro. Agi por impulso'. A afirmação é do ex-militar do Exército André Barbosa, de 26 anos, o homem que a Polícia Civil aponta como o matador de três adolescentes, entre dezembro de 2006 e março de 2007, nas matas da estrada da Ceasa. Detido na tarde de domingo, ele também é acusado de atacar, na semana passada, um garoto de 11 anos, que conseguiu fugir. André confessou todos os crimes. Ao ser apresentado à imprensa, ontem à tarde, o acusado disse ter se arrependido dos assassinatos dos adolescentes, cujas famílias ele conhecia.
Os parentes das vítimas, porém, nunca suspeitaram do ex-militar. 'Foi um momento de fraqueza, agi sem pensar', completou André, durante a tumultuada e rápida entrevista aos jornalistas.
Na entrevista, André Barbosa disse que matou os três garotos, mas não soube explicar os próprios atos. 'Não consigo obter resposta para isso. Estou arrependido'. O ex-militar também não fez comentários sobre os abusos sexuais sofridos pelas vítimas. E pediu perdão aos parentes dos meninos por ter 'traído a confiança deles'. Usando um colete do Grupo de Pronto-Emprego (GPE), e escoltado por policiais dessa unidade da Polícia Civil, André não quis dar mais declarações aos repórteres e foi retirado do auditório da Delegacia Geral de Polícia Civil.
A Polícia Civil divulgou detalhes da confissão de André, que nasceu na cidade paulista de Guarujá, é solteiro e revelou que, na infância, foi abusado sexualmente. Ele contou que veio para Belém com três meses de nascido, sendo criado por uma família no bairro do Guamá. Só conheceu a mãe biológica, que hoje viveria fora do País. Não conheceu o pai. André disse que não completou o nível médio, mas serviu ao Exército em 1999. No Exército, aprendeu a fazer vários tipos de nó em cordas. André Barbosa contou aos policiais civis ter sido violentado sexualmente várias vezes quando tinha de seis para sete anos de idade, por um homem que se chamava 'Max'. Esse homem teria sido morto por causa de problemas com traficantes de drogas, no bairro do Guamá.
De acordo com André, 'Max' lhe dava linha e papagaios (pipas) para brincar. Ele contou que, toda vez que era violentado, 'Max' ameaçava matá-lo, caso contasse a história para alguém. André Barbosa revelou que conhecia os três adolescentes que matou. Ele confirmou que freqüentava a mesma 'lan house' à qual as crianças compareciam, na avenida José Bonifácio, de nome 'Fox' e que foi fechada depois das mortes das crianças. Também passou a freqüentar a 'lan house' de nome 'Big Boi', naquela mesma avenida.
DINHEIRO
André Barbosa contou que, para convencer os garotos a sair com ele, oferecia dinheiro para que tomassem conta de sua bicicleta, enquanto faria um jogo em uma casa lotérica, em frente ao colégio Paulo Maranhão, também na avenida José Bonifácio. Segundo os policiais, ele sempre usava a desculpa de que já lhe tinham roubado uma outra bicicleta. Depois, levava os meninos para as matas da Ceasa. Sobre as mortes, André Barbosa contou que tinha muita confusão na cabeça e ouvia 'vozes'. E que, depois, deparava-se com as crianças mortas. André Barbosa também afirmou que, durante a noite do dia de cada crime, ficava em desespero e que, quando via os noticiários sobre as mortes, não acreditava que ele tivesse cometido os crimes, apesar de se lembrar de todos.
Também explicou com quais golpes dominava as vítimas: 'triângulo', 'arm lock' e 'guilhotina' e um outro que aplicava pelas costas dos adolescentes, de nome 'mata-leão'. André contou ainda que todas as mortes foram causadas por estrangulamento, usando cordas de nylon. Ele disse que estrangulava quando os garotos já estavam desacordados e que agia sozinho em todos os crimes.
Os policiais também quiseram saber a razão pelo qual os assassinatos eram praticados entre dezembro e março. André disse que essa era a época em que via os filhos reunidos com as famílias, por causa de festas como o Natal e o Ano Novo. E, por ter sido adotado, ele não estava com os pais biológicos nessas datas especiais, e sim com os adotivos. Sobre a idade das vítimas que atacou, entre 11 e 15 anos, disse que não as escolhia pela idade, mas que o fazia de forma aleatória.
sexta-feira, 14 de março de 2008
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário